23 de junho de 2025

O impacto de uma frase: quando a linguagem revela a ausência de empatia

 No marketing humanizado, aprendemos que comunicar não se resume a emitir mensagens; trata-se de criar conexões, respeitar contextos e compreender o outro. No entanto, o que vimos na fala de Eliane Cantanhêde foi exatamente o oposto: uma linguagem que, ao tentar ser analítica, falhou no seu propósito mais fundamental, reconhecer a dor humana.

A expressão “uma mortezinha daqui, outra ali”, utilizada para se referir aos impactos dos mísseis iranianos sobre Israel, não é apenas um erro de escolha. Ela é um exemplo claro de como a linguagem pode se tornar cúmplice da desumanização quando não carrega responsabilidade emocional. Em poucos segundos, essa frase traduz a frieza diante da perda de vidas, como se algumas mortes fossem apenas estatísticas descartáveis.

A repercussão foi imediata e justificável. Como profissional de marketing e comunicação, com foco em práticas humanizadas, e tendo aprofundado esse tema durante minha pós-graduação em Gestão de Projetos, em Gerenciamento da Comunicação, não pude ignorar o incômodo que essa fala causou.

No mundo da comunicação, não existe espaço para esse tipo de descuido. Porque palavras não apenas informam, elas moldam percepções, influenciam julgamentos e, sim, validam condutas.

Muito se falou sobre o “contexto técnico” da fala. A jornalista justificou que sua intenção era questionar os sistemas de defesa e a diferença de impacto entre os lados do conflito. Mas em comunicação, a intenção não é o suficiente principalmente quando o assunto é delicado, como a morte de civis em guerras.

Em marketing, isso é uma lição básica: não importa o que você quis dizer, importa o que o outro entendeu. Esse descompasso entre intenção e recepção é o que separa uma comunicação eficaz de uma crise de imagem. O impacto não se anula com justificativas técnicas. Ainda mais quando se trata de vidas humanas.

No dia seguinte, vieram as tentativas de contenção de danos. Primeiro, uma nota tentando explicar a intenção. Depois, um pedido de desculpas mais formal. A GloboNews também se posicionou, reforçando seu compromisso com uma cobertura isenta.

Mas há um ponto que, no marketing humanizado, é inegociável: arrependimento só tem valor quando é autêntico e empático. Pedir desculpas porque “soou mal” ou porque “gerou repercussão negativa” não basta. O público sente quando um pedido de perdão vem mais do medo do cancelamento do que da consciência do erro.

Jornalistas, assim como profissionais de marketing, exercem poder simbólico. Suas palavras não são neutras. Elas constroem narrativas, validam visões de mundo, reforçam crenças. E quando essa comunicação se desconecta da humanidade, ela não apenas falha: ela machuca.

Por fim, vale olhar para além da frase e observar o cenário onde ela ecoou. Vivemos um tempo em que as dores humanas têm sido relativizadas em nome de narrativas ideológicas, políticas ou técnicas. Onde a empatia virou exceção e o desrespeito, rotina.

No marketing, costumamos falar sobre “marcas com alma”. No jornalismo, deveríamos falar sobre comunicadores com consciência.

Porque não existe análise justa sem humanidade. Não existe credibilidade sem empatia.

Como profissional de comunicação e defensora de um marketing mais humano e consciente, me recuso a normalizar falas que ferem, ainda que disfarçadas de técnica ou neutralidade. Porque comunicar não é apenas falar. É assumir a responsabilidade pelo que se deixa no outro.

E se há algo que esse episódio nos ensinou, é que palavras mal ditas não apenas revelam pensamentos ocultos, elas também constroem ou destroem pontes com o mundo.

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